Voo Eastern Air Lines 537

Voo Eastern Air Lines 537

Acima, Douglas DC-4 da Cathay Pacific, similar ao avião destruído. Abaixo, Lockheed P-38 da USAAF, similar ao avião destruído.
Sumário
Data 1 de novembro de 1949 (74 anos)
Causa Colisão em pleno ar
Local Próximo a Alexandria (Virgínia),  Estados Unidos
Coordenadas Local da queda
Total de mortos 55
Total de feridos 1
Primeira aeronave
Origem Boston
Escala New York, Washington
Destino Houston
Passageiros 51
Tripulantes 4
Sobreviventes 0
Segunda aeronave
Modelo P-38 Lightning
Operador Bolívia Governo da Bolívia
Prefixo NX-26927
Primeiro voo 1944
Origem Washington
Destino Washington
Passageiros 0
Tripulantes 1
Sobreviventes 1

O Voo Eastern Air Lines 537 era uma linha área da companhia norte-americana Eastern Air Lines, que ligava Boston a Houston com escalas em Nova York e Washington, DC. No dia 1 de novembro de 1949, um DC-4 que realizava essa linha aérea se chocou em pleno ar com um Lockheed P-38 Lightning da Força Aérea da Bolívia, que fazia um voo de testes. O acidente causaria a morte dos 55 ocupantes do DC-4, sendo considerado na época o pior acidente aéreo dos Estados Unidos.[1][2]

Aeronaves

Douglas DC-4

Com o sucesso do DC-3, a Douglas popularizaria o transporte aéreo. Como alcance pequeno e capacidade para transportar apenas 30 passageiros, o DC-3 precisava realizar muitas escalas para realizar voos muito longos. A Douglas estudaria o projeto de uma nova aeronave, 3 vezes maior que o DC-3 e lançaria em 1939 o Douglas DC-4E. O projeto resultaria em um grande fracasso e seria abandonado logo em seguida, enquanto que a Douglas se voltaria para um novo projeto, o DC-4 Skymaster. O DC-4 Skymaster voaria pela primeira vez em 1942 e as primeiras aeronaves seriam encomendadas pela United Airlines. Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o governo americano requisitaria todas as aeronaves comerciais para o transporte de tropas. Os poucos DC-4 fabricados seriam deslocados para os fronts de guerra na Europa e no Pacífico enquanto que o projeto do DC-4 seria convertido para uso militar, resultando no Douglas C-54.[3]

Após o final da Segunda Guerra Mundial, milhares de aeronaves de transporte utilizadas pelo exército dos Estados Unidos ficariam ociosas, de forma que o governo americano venderia a maior parte delas como material excedente de guerra. Centenas de Douglas C-54 seriam vendidos para empresas de aviação comercial de todo o mundo que os adaptariam para o transporte de passageiros (através da conversão do C-54 para DC-4 Skymaster).[3]

A Eastern Air Lines iria adquirir suas primeiras aeronaves em 1946.[4] O Douglas DC-4/C-54 iria ser operado pela companhia até 1960,[5] quando seria substituído pelo Lockheed L-188 Electra.[6]

A aeronave destruída tinha sido fabricada em 1944 e recebeu número de construção 18365. Entregue a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), receberia o registro 43-17165. Após 2 anos, seria vendido como material excedente de guerra para a Eastern Air Lines, onde seria registrado N88727.[7]

Lockheed P-38 Lightning

Projetado pelo famoso engenheiro Clarence Johnson no final dos anos 1930, o P-38 Lightning realizaria seu primeiro voo em 1939. Com a entrada dos Estados Unidos na segunda guerra mundial em 1941, o P-38 seria deslocado para os teatros de guerra Europeu e Asiático, onde desempenharia funções de caça, escolta de bombardeiros e missões de reconhecimento.[8]

Com o avanço da aviação militar durante a Segunda Guerra Mundial, as grandes nações investiriam em projetos de aeronaves a jato. Assim, ao final da segunda guerra, as aeronaves de motor a pistão (como o P-38) seriam retiradas de serviço das linhas de frente das forças aéreas aliadas e repassadas para forças auxiliares e ou revendidos a países do terceiro mundo.[8]

O Lockheed P-38L destruído no acidente seria fabricado em 1944, tendo recebido o número de construção 422-7931. Ao ser incorporado na Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), receberia o registro 44-26927. Ao final da segunda guerra, o P-38L seria armazenado em um pátio até ser adquirido pelo piloto Hasson Calloway (que ironicamente seria comandante da Eastern Air Lines[9]), que o prepararia para a disputa de corridas aéreas como o Troféu Bendix de 1946.[10] Posteriormente, a aeronave seria oferecida ao governo da Bolívia em 1949, por conta do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR).

Acidente

O Douglas DC-4 registro N88727 decolaria do aeroporto de Boston na manhã de 1 de novembro e se destinava a cidade de Houston, sendo que realizaria escalas em New York e Washington DC. Após realizar breve escala em New York, a aeronave decolaria para sua escala seguinte, na capital americana. Naquela altura, a aeronave transportava 51 passageiros e 4 tripulantes.[11][7]

Em Washington, o represente do governo da Bolívia, Erick Rios Bridoux, se preparava para testar um Lockheed P-38 Lightning, que deveria ser adquirido para a força aérea do país sul americano, dentro do âmbito do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). O P-38 Lightning, registro NX-26927, decolaria da pista 03 do Aeroporto Internacional de Washington as 11h36 min, sendo designado Bolivian 927. Um minuto após a decolagem, a aeronave sofreria falha em um dos seus motores, obrigando Bridoux a declarar emergência.[11][7]

Enquanto isso, o voo Eastern Air Lines 537 recebeu permissão para pousar na pista 03 do Aeroporto Internacional de Washington de forma que o Bolivian 927 pousaria logo em seguida. Ao transmitir a liberação para o pouso, as duas aeronaves se posicionariam no sentido da cabeceira da pista 03, sendo que a situação do Bolivian 927 se deteriorava ainda mais. Ao perceber o risco de colisão iminente, a torre tentou desviar o Bolivian 927 para a esquerda, porém a ordem não chegaria a tempo. Ao efetuar curva para a direita e efetuar a aterrissagem na pista 03 às 11h46 min, o Bolivian 927 arrancaria a cauda do Eastern 537 , que estava em configuração de pouso na mesma pista. Após o choque ambas as aeronaves cairiam nas águas do Rio Potomac. A queda do Eastern 537 causaria a morte de todos os seus 55 ocupantes, enquanto que Rios Bridoux saltaria de para quedas do P-38 em chamas e seria resgatado em estado grave.[11][7]

Voo Eastern Air Lines 537 está localizado em: Distrito de Columbia
Voo Eastern Air Lines 537
Local do acidente, entre o Distrito de Columbia (em destaque) e o estado da Virgínia.

Nacionalidades

O DC-4 da Eastern Air Lines transportava 4 tripulantes e 51 passageiros, dois quais apenas 3 não eram estadunidenses.[1] Entre os mortos no acidente, estavam o deputado de Massachusetts George J. Bates, o empresáerio e ex deputado de New York Michael J. Kennedy e a cartunista da revista The New Yorker, Helen E. Hokinson.[12]

Nacionalidade Tripulação Passageiros Total Sobreviventes
estadunidense 4 48 52 0
Porto Rico portoriquenha 2 2 0
Venezuela venezuelana 1 1 0
Total 4 51 55 0

Investigações

As investigações seriam realizadas pelo Civil Aeronautics Board (CAB). Enquanto que o piloto Rios Bridoux alegou que seu P-38 sofrera uma pane em um dos motores e assim fora autorizado para pousar imediatamente após o pouso de outra aeronave pela torre de controle, os controladores de voo do aeroporto de Washington alegariam que não autorizariam o pouso do P-38 até o pouso do DC-4 da Eastern. Bridoux alegaria que os controladores da torre de Washington não informaram qual avião teria a preferência de pouso antes do seu, e afirmou que tencionou pousar após ver o pouso de um Cessna bimotor no aeroporto de Washington, julgando ser essa a aeronave que deteria a preferência de pouso antes do seu P-38. Bridoux ainda afirmaria que não teria recebido nenhum alerta quanto ao risco de colisão com o DC-4 por parte da torre de Washington.[13]

Segundo o inquérito do acidente realizado pelo Civil Aeronautics Board (CAB), os controladores de voo não conseguiram exercer vigilância no tráfego aéreo suficiente para evitar o choque das aeronaves em pleno ar. O piloto do P-38 por sua vez realizaria uma aproximação direta sem o espaço e o tempo adequados para evitar o choque com o avião da Eastern.[7][11]

  • Vista do aeroporto de Washington (2002). Os destroços do DC-4 da Eastern e do P-38 cairiam no rio Potomac, numa área ao sul do aeroporto.
    Vista do aeroporto de Washington (2002). Os destroços do DC-4 da Eastern e do P-38 cairiam no rio Potomac, numa área ao sul do aeroporto.
  • Torre de controle do Aeroporto Internacional de Washington nos anos 1940.
    Torre de controle do Aeroporto Internacional de Washington nos anos 1940.

Consequências

Erick Rios Bridoux seria processado pela Eastern Airlines, tendo sido absolvido pela justiça em 1954.[11][14] Posteriormente retornaria para a Bolívia onde retomaria sua carreira de piloto, adquirindo em 1955 um Beechcraft model 17, prefixo N51120 e registrado como CP-613.[15] Por conta do acidente com o P-38, o governo da Bolívia iria adquirir apenas uma aeronave do tipo P-38 e optaria pelo P-51 Mustang.[16] Durante alguns anos, esse seria o pior acidente aéreo do mundo e dos Estados Unidos. Até 1950, as conversas entre pilotos e torres de controle nos Estados Unidos não eram gravadas, de forma que nunca se descobriu quem teria causado o primeiro erro que causaria o acidente. o governo americano investiria em 1950, cerca de US$ 300 mil para melhorar o monitoramento dos aeroportos[13] As deficiências do controle de tráfego aéreo , que seriam fundamentais para a ocorrência desse acidente, seriam sanadas apenas na década de 1960 após a ocorrência dois grandes desastres aéreos: o choque entre dois aviões sobre o Grand Cânion em 1956[17] e um acidente similar ocorrido sobre New York em 1960.

Referências

  1. a b Roscoe Snipes - United Press (2 de novembro de 1949). «Trágico acidente de avião ocorrido em Washington». Jornal do Brasil, Ano LIX, edição 258, página 7. Consultado em 7 de abril de 2013 
  2. «55 muertos en el más grande accidente aéreo de la história». El Tiempo, Ano 39, edição 13709, páginas 1 e 17. 2 de novembro de 1949. Consultado em 7 de abril de 2013 
  3. a b «DC-4/C-54». Aviação Comercial. Consultado em 7 de abril de 2013 
  4. Ed Coates. «Douglas Dc-4 in Eastern Air Lines». Ed Coates Collection. Consultado em 7 de abril de 2013 
  5. «DC-4». Vintage Flyer Decals. Consultado em 7 de abril de 2013 
  6. Henry M. Holden. «Mysterious Electra Crashes». reprinted with permission World Airnews- Aviation History from the Society of Aviation Historians. Consultado em 7 de abril de 2013 
  7. a b c d e «Accident description». Aviation Safety Network. Consultado em 7 de abril de 2013 
  8. a b «P-38 Lightning». Lockheed Martin Corporation. Consultado em 7 de abril de 2013 
  9. Rick Badie (11 de agosto de 2010). «Capt. Hasson Calloway, 93: 'A pilot's pilot' for Eastern Airlines». Atlanta Journal-Constitution. Consultado em 7 de abril de 2013 
  10. «The Bendix Trophy Races». Air Race. Consultado em 7 de abril de 2013 
  11. a b c d e «Accident Details». Plane Crash Info. Consultado em 7 de abril de 2013 
  12. «Disasters: Bolivia 927! Turn Left». TIME Magazine. 14 de novembro de 1949 
  13. a b James Cunningham - United Press (22 de março de 1950). «Para determinar as responsabilidades nas colisões aéreas». Correio da Manhã, Ano XLIX, número 17489, página 6- Republicado pela Hemeroteca Digital Brasileira - Biblioteca Nacional. Consultado em 7 de abril de 2013 
  14. United States Court of Appeals District of Columbia Circuit (11 de fevereiro de 1954). «214 F.2d 207: Erick Rios Bridoux v. Eastern Air Lines, Inc». Justia. Consultado em 7 de abril de 2013 
  15. Jonathan R. Olguin (6 de agosto de 2011). «Los Primeros Beechcraft en Bolivia». AviaciónBoliviana.Net. Consultado em 7 de abril de 2013 
  16. Jonathan R. Olguin (29 de outubro de 2008). «Listado de aeronaves en servicio entre 1935 y 1972». AviaciónBoliviana.Net. Consultado em 7 de abril de 2013 
  17. desastresaereosnews.blogspot.com.br/2010/03/dez-acidentes-que-mudaram-aviacao.html - Dez acidentes que mudaram a aviação - 6 de março de 2010 - Jorge Tadeu

Ligações externas

  • «Descrição do acidente» (em inglês). Aviation Safety Network (aviation-safety.net) 
  • v
  • d
  • e
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  • Colisão aérea de Exhall (19 fev)
  • Acidente do Lockheed Lodestar da Queensland Airlines (10 mar)
  • Tragédia de Superga (4 mai)
  • Acidente do Curtiss C-46 da Strato-Freight (7 jun)
  • Acidente do Douglas DC-3 da MacRobertson Miller Aviation (2 jul)
  • Standard Air Lines 897R (12 jul)
  • Acidente do Douglas DC-3 da British European Airways (19 ago)
  • Canadian Pacific Air Lines 108 (9 set)
  • Air France 009 (28 out)
  • Eastern Air Lines 537 (1 nov)
  • Desastre aéreo de Hurum (20 nov)
  • American Airlines 157 (29 nov)
  • Acidente do Douglas DC-3 da Sabena (18 dez)
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