Teoria de Mohr-Coulomb

A teoria de Mohr–Coulomb é um modelo matemático que descreve a resposta de materiais frágeis como o concreto a tensão cisalhante bem como tensão normal. A maior parte dos materiais clássicos de engenharia seguem de alguma forma esta regra em pelo menos uma porção de seu envelope de falha cisalhante. De forma geral a teoria se aplica a materiais para os quais a resistência à compressão excede em muito a resistência à tração.[1]

Em engenharia geotécnica a teoria é usada para definir resistência ao cisalhamento de solos e rochas a diferentes tensões efetivas.

Em engenharia estrutural a teoria é usada para determinar cargas de falha bem como o ângulo de fratura de um deslocamento de fratura em concreto e materiais similares. A hipótese de atrito de Coulomb é usada para determinar a combinação de tensão cisalhante e normal que irá causar a fratura do material. O círculo de Mohr é usado para determinar quais as tensões principais irão produzir esta combinação de tensão cisalhante e normal, e o ângulo do plano no qual isto irá ocorrer. De acordo com o princípio da normalidade a tensão intruduzina na falha será perpendicular à linha descrevendo a condição de fratura.

Pode ser mostrado que um material falhando de acordo com a hipótese de fricção de Coulomb revelará o deslocamento introduzido na falha formando um ângulo com a linha de fratura igual ao ângulo de fricção. Isto torna a resistência do material determinável por comparação do trabalho mecânico externo introduzido pelo deslocamento e o carregamento externo com o trabalho mecânico interno introduzido pela deformação e tensão na linha de falha. Pela lei da conservação da energia a soma destas deve ser zero e isto torna possível calcular a carga de falha da construção.

Uma melhoria comum deste modelo é a combinação da fricção de Coulomb com a hipótese da tensão principal de Rankine para descrever uma fratura de separação.

História do desenvolvimento

A teoria de Mohr–Coulomb é denominada em memória de Charles Augustin de Coulomb e Christian Otto Mohr. A contribuição de Coulomb foi um ensaio publicado em 1773 intitulado "Essai sur une application des règles des maximis et minimis à quelques problèmes de statique relatifs à l'architecture".[2] Mohr desenvolveu uma forma generalizada da teoria no final do século XIX.[3] Como a forma generalizada afetou a interpretação do critério, mas não a essência do mesmo, alguns textos continuam a referir-se ao critério como simplesmente 'critério de Coulomb'.[4]

Critério de falha de Mohr–Coulomb

O critério de falha de Mohr–Coulomb[5] representa o envelope linear que é obtido de uma plotagem da resistência ao cisalhamento de um material τ {\displaystyle \tau } versus a tensão normal aplicada σ {\displaystyle \sigma } . Esta relação é expressa como

Círculos que representam um ensaio triaxial. No ensaio triaxial as pressões aumentam de forma igualitária em todas as direções.
τ = σ   tan ( ϕ ) + c {\displaystyle \tau =\sigma ~\tan(\phi )+c}

onde c {\displaystyle c} é a interseção do envelope de falha com o eixo τ {\displaystyle \tau } , e ϕ {\displaystyle \phi } é o ângulo do envelope de falha. A quantidade c {\displaystyle c} é frequentemente denominada coesão e o ângulo ϕ {\displaystyle \phi } é chamado de ângulo de fricção interna. A compressão é assumida ser positiva na discussão a seguir. Se a compressão é assumida ser negativa então σ {\displaystyle \sigma } deve ser trocado por σ {\displaystyle -\sigma } .

Se ϕ = 0 {\displaystyle \phi =0} , o critério de Mohr–Coulomb se reduz à teoria de Tresca. Por outro lado, se ϕ = 90 {\displaystyle \phi =90^{\circ }} o modelo de Mohr–Coulomb é equivalente ao modelo de Rankine. Valores maiores de ϕ {\displaystyle \phi } não são permitidos.

Do círculo de Mohr temos

σ = σ m τ m sin ϕ   ;     τ = τ m cos ϕ {\displaystyle \sigma =\sigma _{m}-\tau _{m}\sin \phi ~;~~\tau =\tau _{m}\cos \phi }

onde

τ m = σ 1 σ 3 2   ;     σ m = σ 1 + σ 3 2 {\displaystyle \tau _{m}={\cfrac {\sigma _{1}-\sigma _{3}}{2}}~;~~\sigma _{m}={\cfrac {\sigma _{1}+\sigma _{3}}{2}}}

e σ 1 {\displaystyle \sigma _{1}} é a tensão principal máxima e σ 3 {\displaystyle \sigma _{3}} é a tensão principal mínima.

Portanto, o critério de Mohr–Coulomb pode também ser expresso como

τ m = σ m sin ϕ + c cos ϕ {\displaystyle \tau _{m}=\sigma _{m}\sin \phi +c\cos \phi }

Esta forma do critério de Mohr–Coulomb é aplicável a falha sobre um plano que é paralelo à direção σ 2 {\displaystyle \sigma _{2}} .

Critério de falha de Mohr–Coulomb em três dimensões

O critério de Mohr–Coulomb em três dimensões é frequentemente expresso como

{ ± σ 1 σ 2 2 = [ σ 1 + σ 2 2 ] sin ( ϕ ) + c cos ( ϕ ) ± σ 2 σ 3 2 = [ σ 2 + σ 3 2 ] sin ( ϕ ) + c cos ( ϕ ) ± σ 3 σ 1 2 = [ σ 3 + σ 1 2 ] sin ( ϕ ) + c cos ( ϕ ) . {\displaystyle \left\{{\begin{aligned}\pm {\cfrac {\sigma _{1}-\sigma _{2}}{2}}&=\left[{\cfrac {\sigma _{1}+\sigma _{2}}{2}}\right]\sin(\phi )+c\cos(\phi )\\\pm {\cfrac {\sigma _{2}-\sigma _{3}}{2}}&=\left[{\cfrac {\sigma _{2}+\sigma _{3}}{2}}\right]\sin(\phi )+c\cos(\phi )\\\pm {\cfrac {\sigma _{3}-\sigma _{1}}{2}}&=\left[{\cfrac {\sigma _{3}+\sigma _{1}}{2}}\right]\sin(\phi )+c\cos(\phi ).\end{aligned}}\right.}

A superfície de falha de Mohr–Coulomb é um cone com seção transversal hexagonal no espaço das tensões deviatórias.

As expressões para τ {\displaystyle \tau } e σ {\displaystyle \sigma } podem ser generalizadas para três dimensões desenvolvendo expressões para a tensão normal e a tensão cisalhante resolvida sobre um plano de orientação arbitrária em relação aos eixos coordenados (vetores de base). Se o vetor normal unitário ao plano de interesse é

n = n 1   e 1 + n 2   e 2 + n 3   e 3 {\displaystyle \mathbf {n} =n_{1}~\mathbf {e} _{1}+n_{2}~\mathbf {e} _{2}+n_{3}~\mathbf {e} _{3}}

onde e i ,     i = 1 , 2 , 3 {\displaystyle \mathbf {e} _{i},~~i=1,2,3} são os três vetores base unitários ortonormais, e se as tensões principais σ 1 , σ 2 , σ 3 {\displaystyle \sigma _{1},\sigma _{2},\sigma _{3}} são alinhadas com os vetores base e 1 , e 2 , e 3 {\displaystyle \mathbf {e} _{1},\mathbf {e} _{2},\mathbf {e} _{3}} , então as expressões para σ , τ {\displaystyle \sigma ,\tau } são

σ = n 1 2 σ 1 + n 2 2 σ 2 + n 3 2 σ 3 τ = ( n 1 σ 1 ) 2 + ( n 2 σ 2 ) 2 + ( n 3 σ 3 ) 2 σ 2 = n 1 2 n 2 2 ( σ 1 σ 2 ) 2 + n 2 2 n 3 2 ( σ 2 σ 3 ) 2 + n 3 2 n 1 2 ( σ 3 σ 1 ) 2 . {\displaystyle {\begin{aligned}\sigma &=n_{1}^{2}\sigma _{1}+n_{2}^{2}\sigma _{2}+n_{3}^{2}\sigma _{3}\\\tau &={\sqrt {(n_{1}\sigma _{1})^{2}+(n_{2}\sigma _{2})^{2}+(n_{3}\sigma _{3})^{2}-\sigma ^{2}}}\\&={\sqrt {n_{1}^{2}n_{2}^{2}(\sigma _{1}-\sigma _{2})^{2}+n_{2}^{2}n_{3}^{2}(\sigma _{2}-\sigma _{3})^{2}+n_{3}^{2}n_{1}^{2}(\sigma _{3}-\sigma _{1})^{2}}}.\end{aligned}}}

O critério de falha de Mohr–Coulomb pode então ser avaliado usando a expressão usual

τ = σ   tan ( ϕ ) + c {\displaystyle \tau =\sigma ~\tan(\phi )+c}

para os seis planos de tensão cisalhante máxima.

Dedução das tensões normal e cisalhante sobre um plano
Seja a normal unitária ao plano de interesse
n = n 1   e 1 + n 2   e 2 + n 3   e 3 {\displaystyle \mathbf {n} =n_{1}~\mathbf {e} _{1}+n_{2}~\mathbf {e} _{2}+n_{3}~\mathbf {e} _{3}}

onde e i ,     i = 1 , 2 , 3 {\displaystyle \mathbf {e} _{i},~~i=1,2,3} são três vetores base unitários ortonormais. Então o vetor tração sobre o plano é dada por

t = n i   σ i j   e j       (soma sobre índices repetidos) {\displaystyle \mathbf {t} =n_{i}~\sigma _{ij}~\mathbf {e} _{j}~~~{\text{(soma sobre índices repetidos)}}}

A magnitude do vetor tração é dada por

| t | = ( n j   σ 1 j ) 2 + ( n k   σ 2 k ) 2 + ( n l   σ 3 l ) 2       (soma sobre índices repetidos) {\displaystyle |\mathbf {t} |={\sqrt {(n_{j}~\sigma _{1j})^{2}+(n_{k}~\sigma _{2k})^{2}+(n_{l}~\sigma _{3l})^{2}}}~~~{\text{(soma sobre índices repetidos)}}}

Então a magnitude da tensão normal ao plano é dada por

σ = t n = n i   σ i j   n j     (soma sobre índices repetidos) {\displaystyle \sigma =\mathbf {t} \cdot \mathbf {n} =n_{i}~\sigma _{ij}~n_{j}~~{\text{(soma sobre índices repetidos)}}}

A magnitude da tensão cisalhante resolvida sobre o plano é dada por

τ = | t | 2 σ 2 . {\displaystyle \tau ={\sqrt {|\mathbf {t} |^{2}-\sigma ^{2}}}.}

Em termos de componentes temos

σ = n 1 2 σ 11 + n 2 2 σ 22 + n 3 2 σ 33 + 2 ( n 1 n 2 σ 12 + n 2 n 3 σ 23 + n 3 n 1 σ 31 ) τ = ( n 1 σ 11 + n 2 σ 12 + n 3 σ 31 ) 2 + ( n 1 σ 12 + n 2 σ 22 + n 3 σ 23 ) 2 + ( n 1 σ 31 + n 2 σ 23 + n 3 σ 33 ) 2 σ 2 {\displaystyle {\begin{aligned}\sigma &=n_{1}^{2}\sigma _{11}+n_{2}^{2}\sigma _{22}+n_{3}^{2}\sigma _{33}+2(n_{1}n_{2}\sigma _{12}+n_{2}n_{3}\sigma _{23}+n_{3}n_{1}\sigma _{31})\\\tau &={\sqrt {(n_{1}\sigma _{11}+n_{2}\sigma _{12}+n_{3}\sigma _{31})^{2}+(n_{1}\sigma _{12}+n_{2}\sigma _{22}+n_{3}\sigma _{23})^{2}+(n_{1}\sigma _{31}+n_{2}\sigma _{23}+n_{3}\sigma _{33})^{2}-\sigma ^{2}}}\end{aligned}}}

Se as tensões principais σ 1 , σ 2 , σ 3 {\displaystyle \sigma _{1},\sigma _{2},\sigma _{3}} são alinhadas com os vetores base e 1 , e 2 , e 3 {\displaystyle \mathbf {e} _{1},\mathbf {e} _{2},\mathbf {e} _{3}} , então as expressões para σ , τ {\displaystyle \sigma ,\tau } são

σ = n 1 2 σ 1 + n 2 2 σ 2 + n 3 2 σ 3 τ = ( n 1 σ 1 ) 2 + ( n 2 σ 2 ) 2 + ( n 3 σ 3 ) 2 σ 2 = n 1 2 n 2 2 ( σ 1 σ 2 ) 2 + n 2 2 n 3 2 ( σ 2 σ 3 ) 2 + n 3 2 n 1 2 ( σ 3 σ 1 ) 2 {\displaystyle {\begin{aligned}\sigma &=n_{1}^{2}\sigma _{1}+n_{2}^{2}\sigma _{2}+n_{3}^{2}\sigma _{3}\\\tau &={\sqrt {(n_{1}\sigma _{1})^{2}+(n_{2}\sigma _{2})^{2}+(n_{3}\sigma _{3})^{2}-\sigma ^{2}}}\\&={\sqrt {n_{1}^{2}n_{2}^{2}(\sigma _{1}-\sigma _{2})^{2}+n_{2}^{2}n_{3}^{2}(\sigma _{2}-\sigma _{3})^{2}+n_{3}^{2}n_{1}^{2}(\sigma _{3}-\sigma _{1})^{2}}}\end{aligned}}}

Referências

  1. Juvinal, Robert C. & Marshek, Kurt .; Fundamentals of machine component design. – 2nd ed., 1991, pp. 217, ISBN 0-471-62281-8
  2. AMIR R. KHOEI; Computational Plasticity in Powder Forming Processes; Elsevier, Amsterdam; 2005; 449 pp.
  3. MAO-HONG YU; "Advances in strength theories for materials under complex stress state in the 20th Century"; Applied Mechanics Reviews; American Society of Mechanical Engineers, New York, U.S.A.; May 2002; 55 (3): pp. 169–218.
  4. NIELS SAABYE OTTOSEN and MATTI RISTINMAA; The Mechanics of Constitutive Modeling; Elsevier Science, Amsterdam, The Netherlands; 2005; pp. 165ff.
  5. Coulomb, C. A. (1776). Essai sur une application des regles des maximis et minimis a quelquels problemes de statique relatifs a la architecture. Mem. Acad. Roy. Div. Sav., vol. 7, pp. 343–387.
  • https://web.archive.org/web/20061008230404/http://fbe.uwe.ac.uk/public/geocal/SoilMech/basic/soilbasi.htm
  • http://www.civil.usyd.edu.au/courses/civl2410/earth_pressures_rankine.doc
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