Equação diferencial exata

Este artigo trata de equação diferencial ordinária exata no sentido denotativo, para possível sentido conotativo, que pode causar confusão, ver equações diferenciais estocásticas.

Uma Equação diferencial ordinária é dita exata[1] quando é possível colocá-la na seguinte forma:

M ( x , y ) d x + N ( x , y ) d y = 0 {\displaystyle M(x,y)dx+N(x,y)dy=0}

e

M y = N x {\displaystyle {\frac {\partial M}{\partial y}}={\frac {\partial N}{\partial x}}}

com M {\displaystyle M} e N {\displaystyle N} funções diferenciáveis e integráveis.

Teorema

O seguinte teorema fornece um método sistemático de determinar se uma equação diferencial dada é exata.[2]

Suponha que as funções M , N , M y {\displaystyle M,N,M_{y}} e N x {\displaystyle N_{x}} , onde os índices denotam derivadas parciais, são contínuas na região conexa R :     α < x < β ,     λ < y < σ {\displaystyle R:\ \ \alpha <x<\beta ,\ \ \lambda <y<\sigma } .

Então, a equação

M ( x , y ) d x + N ( x , y ) d y = 0 {\displaystyle M(x,y)dx+N(x,y)dy=0}

é uma equação diferencial exata em R {\displaystyle R} se, e só se,

M ( x , y ) y = N ( x , y ) x {\displaystyle {\frac {\partial M(x,y)}{\partial y}}={\frac {\partial N(x,y)}{\partial x}}} (1)

em cada ponto de R.

Isto é, existe uma função F ( x , y ) {\displaystyle F(x,y)} que satisfaz as equações,

F ( x , y ) x = M ( x , y ) {\displaystyle {\frac {\partial F(x,y)}{\partial x}}=M(x,y)}
F ( x , y ) y = N ( x , y ) {\displaystyle {\frac {\partial F(x,y)}{\partial y}}=N(x,y)}

se, e só se, M {\displaystyle M} e N {\displaystyle N} satisfazem (1), pois[2]

F ( x , y ) x y = F ( x , y ) y x {\displaystyle {\frac {\partial F(x,y)}{\partial x\partial y}}={\frac {\partial F(x,y)}{\partial y\partial x}}}

Método de Solução

Uma equação diferencial ordinária do tipo

M ( x , y ) d x + N ( x , y ) d y = 0 {\displaystyle M(x,y)dx+N(x,y)dy=0}

é equivalente a

M ( x , y ) + N ( x , y ) y = 0 {\displaystyle M(x,y)+N(x,y)y'=0} , pois y = d y d x {\displaystyle y'={\frac {dy}{dx}}}

Se ela for uma equação exata, teremos que M y = N x {\displaystyle {\frac {M}{\partial y}}={\frac {N}{\partial x}}} .

Então podemos supor que há uma função F {\displaystyle F} de modo que F x = M ( x , y ) {\displaystyle {\frac {\partial {F}}{\partial {x}}}=M(x,y)} .

Assim, para obter essa função basta integrar M ( x , y ) {\displaystyle M(x,y)} em relação a x {\displaystyle x} .

F = M ( x , y ) d x + g ( y ) {\displaystyle F=\int {M(x,y)dx}+g(y)} . Note-se que g ( y ) {\displaystyle g(y)} é a constante de integração, e como não depende de x {\displaystyle x} , d d x ( g ( y ) ) = 0 {\displaystyle {\frac {d}{dx}}\left(g(y)\right)=0} .

Agora podemos derivar F {\displaystyle F} na direção de y {\displaystyle y} supondo que F y = N ( x , y ) {\displaystyle {\frac {\partial {F}}{\partial {y}}}=N(x,y)} . Assim, obtemos:

F y = y M ( x , y ) d x + g ( y ) = N ( x , y ) {\displaystyle {\frac {\partial {F}}{\partial {y}}}={\frac {\partial }{\partial {y}}}\int {M(x,y)dx+g'(y)}=N(x,y)} .

Isolando g ( y ) {\displaystyle g'(y)} temos:

g ( y ) = N ( x , y ) y M ( x , y ) d x {\displaystyle g'(y)=N(x,y)-{\frac {\partial }{\partial {y}}}\int {M(x,y)dx}}

Então, por fim, integramos g ( y ) {\displaystyle g'(y)} na direção de y {\displaystyle y} , de modo a obter:

g ( y ) = ( N ( x , y ) y M ( x , y ) d x ) d y {\displaystyle g(y)=\int \left({N(x,y)-{\frac {\partial }{\partial {y}}}\int {M(x,y)dx}}\right)dy}

Ou seja

F = M ( x , y ) d x + g ( y ) = M ( x , y ) d x + ( N ( x , y ) y M ( x , y ) d x ) d y {\displaystyle F=\int {M(x,y)dx}+g(y)=\int {M(x,y)dx}+\int \left({N(x,y)-{\frac {\partial }{\partial {y}}}\int {M(x,y)dx}}\right)dy}

E, finalmente, a solução da equação diferencial é a função implícita F ( x , y ) = c {\displaystyle F(x,y)=c} [1]

Exemplo

Resolvamos a equação Diferencial Ordinária     y = d y d x = ( 2 x + y 2 ) ( 2 x + 1 ) y {\displaystyle y'={\frac {dy}{dx}}={\frac {-(2x+y^{2})}{(2x+1)y}}} .

Temos:

( 2 x + y 2 ) d x + ( 2 x y + y ) d y = 0 {\displaystyle (2x+y^{2})dx+(2xy+y)dy=0} ,

onde

M = ( 2 x + y 2 ) {\displaystyle M=(2x+y^{2})} e N = ( 2 x y + y ) {\displaystyle N=(2xy+y)} .

Logo, M y = 2 y = N x {\displaystyle {\frac {\partial M}{\partial y}}=2y={\frac {\partial N}{\partial x}}} , donde se conclui que é exata.

Pelo corolário acima, ∃F(x,y), então:

F x = M = 2 x + y 2 {\displaystyle {\frac {\partial F}{\partial x}}=M=2x+y^{2}} .

Integrando em relação a x:

F ( x , y ) = x 2 + x y 2 + f ( y ) {\displaystyle F(x,y)=x^{2}+xy^{2}+f(y)} , em que f(y) é uma função de y.

Além disso, F y = N = 2 x y + f ( y ) = 2 x y + y {\displaystyle {\frac {\partial F}{\partial y}}=N=2xy+f'(y)=2xy+y} . Então f ( y ) = y {\displaystyle f'(y)=y} .

Integrando em relação a y, temos: f ( y ) = y 2 2 + c {\displaystyle f(y)={\frac {y^{2}}{2}}+c} , c constante.

Logo, pelo corolário, a função F é:

F ( x , y ) = x 2 + x y 2 + y 2 2 + c {\displaystyle F(x,y)=x^{2}+xy^{2}+{\frac {y^{2}}{2}}+c}

A solução da equação diferencial exata é F ( x , y ) = 0 {\displaystyle F(x,y)=0} ou seja

x 2 + x y 2 + y 2 2 + c = 0 {\displaystyle x^{2}+xy^{2}+{\frac {y^{2}}{2}}+c=0}

Exemplo no plano

Considere uma função diferenciável

z = F ( x , y ) ; ( x , y ) Ω R 2 {\displaystyle z=F(x,y);(x,y)\in \Omega \subset {\mathbf {R} }^{2}} da qual pode-se deduzir a expressão diferencial exata
d z = F x d x + F y d y {\displaystyle dz={\frac {\partial F}{\partial x}}dx+{\frac {\partial F}{\partial y}}dy}

A expressão que deu origem à equação, z = F ( x , y ) {\displaystyle z=F(x,y)} , representa uma superfície de um tipo especial, pois é o gráfico de uma função diferenciável.

Esta superfície, quando cortada pelo plano (de altura) constante z = C {\displaystyle z=C} equivale a resolver o sistema de equações:

z = C z = F ( x , y ) {\displaystyle {\begin{array}{ll}z=C\\z=F(x,y)\\\end{array}}}

Geometricamente falando, o resultado desta interseção é uma curva no espaço, obtida pela interserção de duas superfícies. Como o plano é paralelo ao plano X O Y {\displaystyle XOY} então há uma projeção desta curva espacial sobre o domínio Ω {\displaystyle \Omega } de z = F ( x , y ) {\displaystyle z=F(x,y)} que chamamos curva de nível. Observe que se pode representar a interseção escrevendo

F ( x , y ) = C {\displaystyle F(x,y)=C}

Diferenciando esta última equação, obtemos:

F x d x + F y d y = 0 {\displaystyle {\frac {\partial F}{\partial x}}dx+{\frac {\partial F}{\partial y}}dy=0}

Esta última expressão é a que em geral temos, a equação diferencial exata. Quer dizer, resolver uma equação diferencial exata consiste em recuperar, se for possível, a função cuja diferencial se encontra expressa na equação.

Mas não é nesta forma canônica, das equações diferenciais exatas, uma das razões disso é que ela podem representar formas não exatas. A forma canônica é

P ( x , y ) d x + Q ( x , y ) d y = 0 {\displaystyle P(x,y)dx+Q(x,y)dy=0}

Esta equação é dita exata se existe uma função w = F ( x , y ) {\displaystyle w=F(x,y)} tal que

P ( x , y ) = F x Q ( x , y ) = F y {\displaystyle {\begin{array}{l}P(x,y)={\frac {\partial F}{\partial x}}\\Q(x,y)={\frac {\partial F}{\partial y}}\\\end{array}}}

Resolver, então, a equação diferencial exata consiste em descobrir F {\displaystyle F} a partir de suas derivadas parciais.

Referências

  1. a b E. BOYCE, William; DIPRIMA, Richard C. (2006). Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno oitava ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 51. ISBN 978-85-216-1499-9  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  2. a b E. BOYCE, William; DIPRIMA, Richard C. (2006). Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno oitava ed. Rio de Janeiro: LTC. ISBN 978-85-216-1499-9  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Theresa M. Korn; Korn, Granino Arthur. Mathematical Handbook for Scientists and Engineers:Definitions, Theorems, and Formulas for Reference and Review. New York: Dover Publications, 157-160. ISBN 0-486-41147-8

Ver também

  • v
  • d
  • e
Sistema de equações diferenciais
Equações diferenciais
parciais
Métodos analíticos
Métodos numéricos
Pessoas
Outros