Crise política na República Democrática do Congo em 2016

A crise política na República Democrática do Congo em 2016 ocorre após o adiamento para uma data indeterminada da eleição presidencial marcada para 20 de dezembro de 2016, permitindo que o presidente Joseph Kabila permaneça no poder.[1] Teve inicio em setembro, com as primeiras cimeiras políticas buscando resolver a situação, concomitante com manifestações que provocaram diversas mortes[2] e prossegue até 31 de dezembro, quando um acordo foi finalmente alcançado, o qual prevê a saída do presidente Kabila e a realização de eleições presidenciais em 2017.

Contexto

O presidente Joseph Kabila.

O presidente Kabila já cumpriu os dois mandatos que lhe outorga a Constituição, estando portanto impedido de se candidatar novamente.[3] Após as eleições de 2011, marcadas por fraudes em massa, a situação política torna-se tensa na República Democrática do Congo.[4] As manifestações realizadas em janeiro de 2015 são severamente reprimidas. Os opositores e os jornalistas são presos.

Cronologia

Em janeiro de 2015, a Assembleia congolesa aprova um projeto de lei para adiar a data das eleições. Esta lei é contestada pela oposição, gerando três dias de violência.[5]

Em 11 de maio de 2016, a Corte Constitucional autoriza o presidente a permanecer no poder na ausência de novas eleições.[2] A oposição se reúne em 10 de junho por iniciativa de Étienne Tshisekedi e exige a saída de Kabila em 31 de julho.

Em 1º de setembro, as negociações começam, mas apenas uma parte da oposição, liderada por Étienne Tschisekedi, participa. Em 19 e 20 de setembro, três meses antes do final do mandato de Joseph Kabila, a oposição organiza manifestações.[6] Durante estes protestos, a polícia dispara contra a multidão, enquanto as sedes dos partidos políticos e o comércio são incendiados.[3]

Em outubro de 2016, a oposição pede por um "dia de cidades mortas" devido a recusa de Kabila de organizar novas eleições.[7][8]

Em 20 de dezembro de 2016 o presidente Joseph Kabila anunciou um novo governo, após o seu mandato constitucional expirar no dia anterior.[9] Imediatamente, protestos se espalharam por todo o país, que nunca teve uma transferência pacífica de poder desde sua fundação em 1960. Como consequência dos protestos, houve o bloqueio da mídia social pelo governo[10] e violência pelas forças de segurança, que deixou dezenas de mortos.[11] Os governos estrangeiros condenaram os ataques contra manifestantes.

Em 23 de dezembro, foi proposto um acordo entre o principal grupo de oposição e o governo liderado por Kabila, segundo o qual este último concordou em não alterar a Constituição e deixar o cargo antes do final de 2017. [12] Em conformidade com a decisão, o líder da oposição, Étienne Tshisekedi, supervisionará para que o acordo seja implementado e que o primeiro-ministro seja nomeado pela oposição.[12]

A Igreja Católica Romana da República Democrática do Congo foi mediadora das conversações entre membros da oposição política do país e o governo.[13]

Referências

  1. «Crise politique en RDC - Accord pour une sortie de crise en RD Congo, selon la médiation et un ministre» (em francês). RTL. 31 de dezembro de 2016 
  2. a b «Violences et crise politique en RDC» (em francês). VOA Afrique. 19 de setembro de 2016 
  3. a b Sede do partido opositor é incendiada na República Democrática do Congo - G1
  4. «Polícia impede protesto contra Presidente da República Democrática do Congo». Deutsche Welle 
  5. «RD Congo : 5 questions sur la crise politique congolaise» (em francês). Le Point Afrique. 21 de setembro de 2016 
  6. «Mais où va la République démocratique du Congo ?» (em francês). Le Point Afrique. 24 de setembro de 2016 
  7. «RDC: Só Kinshasa aderiu ao protesto "cidades mortas"». RFI 
  8. «Crise politique en RDC : l'opposition appelle à une « journée villes mortes »» (em francês). Le Monde Afrique. 19 de outubro de 2016 
  9. «Crise politique en RDC : le pouvoir passe en force» (em francês). La Dépêche. 20 de dezembro de 2016 
  10. «República Democrática do Congo limita acesso à internet para evitar protestos». Notícias Terra. 18 de dezembro de 2016 
  11. «Eleições na República Democrática do Congo no final de 2017». Deutsche Welle 
  12. a b «Opposition says Congo politicians agree Kabila transition deal». Reuters (em inglês). 23 de dezembro de 2016 
  13. Burke, Jason (20 de dezembro de 2016). «'20 dead' in DRC protests after president's term expires». The Guardian 
  • Portal da República Democrática do Congo