Capela da Misericórdia de Aljustrel

Capela da Misericórdia de Aljustrel
Capela da Misericórdia de Aljustrel
Fachada principal da capela, em 2013.
Nomes alternativos Igreja da Misericórdia de Aljustrel
Estilo dominante Maneirismo e rococó
Inauguração Século XVI
Património Nacional
SIPA 929
Geografia
País Portugal Portugal
Região Alentejo
Coordenadas

Coordenadas: 37° 52' 48.0" N 8° 09' 50.9" O

37° 52' 48.0" N 8° 09' 50.9" O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

A Capela da Misericórdia de Aljustrel, igualmente conhecida como Igreja da Misericórdia de Aljustrel, é um monumento religioso na vila de Aljustrel, na região do Alentejo, em Portugal. É considerado como um importante elemento do património no Município de Aljustrel, não só devido ao seu valor artístico e histórico, mas também por ter sido um centro de assistência social às populações.[1]

Pormenor do portal principal.

Descrição

Do ponto de vista artístico, o imóvel integra-se principalmente no maneirismo,[2] correspondendo aos finais da época renascentista.[1] Possui vários elementos comuns das igrejas das misericórdias maneiristas, como a planta, o portal principal, e a porta para a Sala do Capítulo.[2] Os vários componentes do edificio foram organizados de forma paralela, com a igreja em si e as dependências anexadas a um dos alçados laterais, disposição que também surge noutros exemplares no Sul do país, como as de Ferreira do Alentejo, Almodôvar, Mértola, Torrão e Vila Nova da Baronia.[3] Um dos volumes do edificio é a Casa do Despacho, que está organizada de forma paralela à igreja, situação semelhante à de Castro Verde.[3] Existem vários motivos possíveis para a utilização desde tipo de planta, em contraste com a tradicional disposição em eixo com a capela-mor, como a necessidade de melhor integrar o edifício na malha urbana e viária, aumentar o seu impacto no ambiente em redor, e facilitar o acesso por parte do provedor e dos irmãos à igreja, ressalvando desta forma a divisão social entre os membros da casa e os leigos.[3] A fachada virada para a rua é pontuada por contrafortes, modelo utilizado igualmente noutras igrejas da região, como as de Odemira e Vila Nova da Baronia.[3] O único elemento presente na fachada é o portal principal, sem outras aberturas ou ornamentos.[3] No tímpano do portal[1] encontra-se um escudo com o símbolo das Cinco Chagas de Cristo, outro elemento típico nos templos das misericórdias, surgindo igualmente nas igrejas de Alcácer do Sal, Alcantarilha, Almada, Alvito e Palmela.[3] Este símbolo inclui uma coroa de espinhos e um chicote, em alusão ao suplício de Jesus Cristo.[4] No friso sobre o portal encontra-se também a inscrição «MIA DNI PLENA EST TERRA», abreviatura da frase latina «misericordia domini plena est terra» («a terra está cheia da misericórdia do Senhor»), correspondente ao versículo 5 do salmo 32.[4] O campanário está situado na fachada principal lateral, e tem um remate semi-circular, algo que é relativamente raro entre as igrejas das misericórdias, que normalmente terminam em empenas e frontões triangulares e rectos.[3]

O interior está organizado em dois grandes espaços, uma só nave e a cabeceira, ambos de planta quadrada, sendo a capela-mor de menores dimensões, e separada da nave por um arco triunfal sobre pilastas.[3] Destacam-se as abóbadas no interior, em arestas cruzadas,[4] diferenciadas em ambos os compartimentos, sendo a da capela-mor de nervura em combados, enquanto que a da nave é polinervada.[3] com uma tipologia semelhante aos modelos manuelinos.[2] O símbolo das Cinco Chagas também aparece nas pedras de fecho das abóbadas, em conjunto com outras figuras, como a coroa de espinhos, pregos, cruz, coluna, chicote, escadas, martelo e alicate.[3] No nicho central encontra-se uma imagem de roca da Virgem Maria, que está representada como a Senhora das Dores.[4] Grande parte das abóbadas de nervuras nos templos alentejanos, como o de Aljustrel, foram executadas na segunda metade do século XVI, e testemunham influências tardo-medievais, que tiveram um grande impacto na região, embora com uma marcada sobriedade em termos de elementos decorativos, mais típica dos estilos maneirista e chão.[3] Num dos acessos à sacristia encontra-se a inscrição latina «REPARTIU DS CÕO PRS», traduzida como «repartiu Deus com os pobres».[4] No interior da sacristia destaca-se um lavabo em pedra.[4] Também se destaca o retábulo, os elementos decorativos da capela-mor em argamassa, de inspiração rococó,[2] e várias tábuas que sobraram de antigos retábulos desmontados, e que foram depois ornamentadas.[3] O espólio inclui igualmente quatro pinturas maneiristas, retratando as cenas da visitação de Santa Maria à sua prima Santa Isabel, da Anunciação do Senhor, e do Nascimento e da Ressurreição de Jesus.[4] Segundo o padre João Rodrigues Lobato, o quadro da Visitação é de especial interesse porque é um testemunho da importante festa que era feita todos os anos, no mês de Julho, em honra de Santa Isabel.[1] Outra importante peça é uma estátua de roca da Rainha Santa Isabel, com uma altura de cerca de 50 cm.[4]

História

A capela foi construída no século XVI, sendo provavelmente posterior a 1533, porque não foi referida na Visitação que foi feita nesse ano a Aljustrel.[4] Na primeira metade do século XVII foram elaboradas as pinturas no interior, enquanto que o altar-mor e os elementos decorativos na nave foram provavelmente executados no período setecentista.[2]

O templo tinha originalmente a finalidade de dar assistência religiosa aos doentes, e servir como local de oração por aqueles que tinham feito doações à instituição da Santa Casa da Misericórdia.[4] Eram ali tradicionalmente celebradas as festas da Semana Santa, cujo ponto mais importante era a procissão do Senhor Morto.[4] Posteriormente passou a ser o destino final da procissão durante a festa anual de Nossa Senhora das Dores, no IV Domingo da Quaresma.[4] Outro importante evento que no passado se realizava nesta capela era a festa litúrgica de Santa Isabel, período no qual também se recebiam as rendas e os foros das propriedades da misericórdia, e se distribuíam as esmolas aos pobres.[1]

Ver também

Referências

  1. a b c d e LOBATO, 1983:97-98
  2. a b c d e FALCÃO, José; PEREIRA, Ricardo (1996). «Capela da Santa Casa da Misericórdia de Aljustrel». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 13 de Julho de 2022 
  3. a b c d e f g h i j k l PINHO, Joana Maria Balsa Carvalho de (2012). As Casas da Misericórdia: confrarias da Misericórdia e a Arquitectura quinhentista portuguesa (PDF) (Tese de doutoramento). Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. p. 139, 22-278, 289, 291, 297-299, 308, 310, 331, 374, 384, 450-452, 454. Consultado em 13 de Julho de 2022 
  4. a b c d e f g h i j k l «Igreja da Misericórdia». Paróquia de Aljustrel. Consultado em 15 de Julho de 2022 
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Bibliografia

  • LOBATO, João Rodrigues (2005) [1983]. Aljustrel: Monografia. Aljustrel: Câmara Municipal de Aljustrel. 432 páginas 

Ligações externas

  • Capela da Santa Casa da Misericórdia de Aljustrel na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
  • «Página sobre a Capela da Misericórdia de Aljustrel, no sítio electrónico Wikimapia» 
  • «Página sobre a Igreja da Misericórdia de Aljustrel, no sítio electrónico All About Portugal» 


  • Portal dos monumentos de Portugal
  • Portal do catolicismo
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